TSE determina criação de cotas para candidatos negros no Fundo Eleitoral


O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu, na terça-feira (25), que a verba do fundo eleitoral e o tempo de propaganda no rádio e TV devem ser divididos na mesma proporção entre candidatos negros e brancos de cada sigla.

A discussão foi retomada nesta terça-feira com o voto do ministro Og Fernandes, que deu o quarto voto a favor da medida. Já haviam manifestado seus pareceres Luís Roberto Barroso, Luiz Edson Fachin e Alexandre de Moraes. Og Fernandes, no entanto, solicitou que o entendimento só seja aplicado a partir das eleições de 2022. O ministro Tarcísio Vieira votou contra.

“Não deixa de ser uma frustração postergarmos uma situação que a maioria formada considera injusta”, disse o presidente do TSE, Luís Roberto Barroso. Ainda assim, o ministro celebrou a proporcionalidade dos fundos e do tempo de TV. "Este é um momento importante do tribunal e do país. Afirmamos que estamos do lado dos que combatem o racismo dos que querem reescrever a história do Brasil com tintas de todas as cores. Esse discurso que procurava limitar o racismo a comportamento individuais encobria um sistema de dominação racial que influencia o funcionamento de todas as instituições. O racismo no Brasil é fenômeno estrutural, institucional e sistêmico", disse ao encerrar a sessão.

A discussão na Corte se deu a partir de um questionamento da deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ), do Instituto Marielle Franco, Movimento Mulheres Negras Decidem, da Educafro e da Coalizão Negra por Direitos, para saber se uma parcela dos incentivos às candidaturas femininas que estão previstas na legislação poderia ser reservada especificamente para candidatas negras. A deputada questionou, ainda, sobre a possibilidade de reservar vagas para candidatos negros, destinando 30% do FEFC e do tempo de propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV para atender a essa finalidade.

"É uma dívida que se tem com o povo negro. O que estamos pedindo não é absolutamente nada que possa mexer no jogo do tabuleiro, apenas que haja uma divisão igualitária no sentido de que as nossas campanhas sejam iguais. Já que nós conseguimos 30% para as mulheres, que também tenhamos condições de dar para as mulheres negras desses 30% que estão colocados. Não estamos pedindo nem mais nem menos porque é uma maneira da gente estimular e incentivar a candidatura negra", disse a deputada ao Congresso Em Foco.

Para a deputada, faltou espaço para discussão sobre o tema no Congresso. "Essa questão racial agora que as pessoas começam dar um pouquinho de atenção. A pandemia mostrou que a desigualdade social é muito mais alta entre a população negra e também a representatividade de todos os órgãos públicos é minoritária, alguns ainda nem existem e a mesma coisa se dá neste contexto".

Benedita aponta que partidos do centro e à direita não fazem têm uma discussão "militória". "A gente não sabe qual é o termômetro que mede a temperatura de qualidade do perfil de uma candidatura, mas ela sempre se iguala ao perfil masculino e branco. É preciso que se faça essa inclusão", defende.

Ainda de acordo com a deputada, falta uma campanha antirracista que permeie todas as instituições da sociedade civil. "A população negra é maioria e a representação dela é minoritária, os partidos não fazem essa discussão, eles criam até núcleos, mas não fazem", conclui.
TSE determina criação de cotas para candidatos negros no Fundo Eleitoral TSE determina criação de cotas para candidatos negros no Fundo Eleitoral Reviewed by www.oblogdepianco.com.br on agosto 26, 2020 Rating: 5

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